terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A educação na berlinda

As mais recentes notícias sobre o estado da arte da educação nacional são no mínimo desanimadoras:

1) O Brasil ficou em 88º na avaliação da Unesco, de que participaram 128 países, para medir o desenvolvimento educacional (IDE). Na América Latina, onde a educação não consegue virar prioridade governamental, ficamos abaixo de Cuba, Argentina, Uruguai, Chile, México, Venezuela, Panamá, Peru, Paraguai, Colômbia, Bolívia, Belize, Equador, Honduras. Ufa! Conseguimos ganhar do Suriname, de El Salvador, da Nicarágua e da Guatemala! E Deus seja louvado! Na África, foi possível superar Burkina Faso, Guiné, Togo, Benin, Moçambique... É mole?

2) Em São Paulo, o estado mais adiantado do país (já foi a locomotiva desse trem, lembram-se?) houve uma seleção de professores não estáveis, os chamados temporários, para atuarem no ano letivo de 2010. Em 2009 numa prova como essa, 1.500 candidatos tiraram nota zero. Desta vez ocorreu uma pequena melhora, mas, mesmo assim, dentre os 181.870 candidatos, foram reprovados 40% dos que já trabalhavam em sala e 48% dos que, sem nunca terem trabalhado, foram tentar a sorte. 93.804 conseguiram aprovação, ou seja, acertaram 50% das 80 questões que compunham a prova. A gravidade desses números está em que, mesmo os reprovados poderão ser convocados para lecionar, eis que a necessidade de professores temporários supera o total dos classificados na prova.

3) O Ipea acaba de divulgar um estudo sobre os jovens brasileiros (Juventude e Políticas Sociais no Brasil), em que se verifica que no ensino médio as coisas vão de mal a pior. Há 10,2 milhões de jovens de 15 a 17 anos no Brasil e, desses, apenas a metade vem cursando esse grau de escolaridade básica (ou já o concluiu). A outra metade, composta de jovens fora de escola, ou que nela nunca se matricularam, ou apenas frequentaram aulas por um ano ou pouco mais, e se evadiram.

E por que tem havido uma taxa tão expressiva de evasão e/ou reprovação?

O Ipea contorna a questão, atribuindo o fenômeno à necessidade do adolescente de trabalhar ou, se for mulher, à crescente onda de gravidez precoce. De fato, são duas coisas que devem ser levadas em conta, mas que sozinhas não esclarecem satisfatoriamente a questão, eis que a principal razão reside no próprio curso, que ainda se dá na pedagogia do magister dixit (e o professor tem cada vez menos a dizer!) e na didática ronceira de uma metodologia que desconhece dois interesses do jovem contemporâneo: o uso da tecnologia avançada da informática e a incapacidade docente de enunciar um conceito e, em seguida, demonstrar a sua aplicabilidade na vida de cada um de nós. O eruditismo das teorias memorizadas tem para o adolescente um peso insuportável, eis que a cultura só se justifica se puder ser claramente uma prática de vida (Confúcio já proclamava, e a moderna teoria pedagógica vem reafirmando isso com toda ênfase – só sabe quem faz). Quanto à tecnologia informatizada (não basta ter computadores na escola: é mister integrá-los ao plano pedagógico em desenvolvimento, com seu uso complementar à aprendizagem). Nos cursos de licenciatura não se estimula a prática na arte de ensinar, nem se mostra como integrar a TI às lições da sala de aula; o professor se diploma sem levar consigo as modernas didáticas da aprendizagem. Alunos que têm computador em casa ou o utilizam como ferramenta do saber nos empregos ou nas lan houses passam a saber mais do que os professores e abandonam o curso por desfastio. Não há interesse nesses conhecimentos papagaiados em cansativas dissertações, no entanto, desde séculos se sabe que o primeiro passo na aprendizagem chama-se interesse...

Quando mudaremos, se é que algo algum dia vai mudar?

Paulo Nathanael Pereira de Souza, além de doutor em educação, é presidente da Academia Paulista de Educação.

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