quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pesquisa brasileira revela um novo indicador para o risco cardíaco

As medidas usuais da circunferência da cintura e do quadril e o índice de massa corporal (IMC) podem ser indicadores do risco de desenvolver doença coronariana. Mas um novo estudo aponta um outro indicador, bem menos conhecido: a gordura visceral abdominal.

Segundo a pesquisa do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a área de gordura visceral abdominal superior a 150 cm² aumenta em quase três vezes as chances de adquirir doença arterial coronariana. Acima de 100 cm² ou 110 cm², começam a surgir complicações metabólicas da gordura visceral, como aumento nos níveis de glicose, colesterol e hipertensão.

A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista internacional Atherosclerosis, avaliou 125 indivíduos (71 homens e 54 mulheres), com idade média de 56 anos, sem diagnóstico prévio de doença coronária.

Submetidos a exames de tomografia computadorizada, cerca 70 pacientes (56%) apresentaram medidas das áreas de gordura visceral abdominal “significativamente associadas ao diagnóstico de doença arterial coronária”, diz o trabalho. Os pesquisadores também verificaram que, quando os pacientes foram submetidos a exames antropométricos e tomográficos tradicionais, os resultados não indicaram uma associação com a doença arterial coronariana.

De acordo com Luiz Francisco Rodrigues Ávila, médico do InCor e um dos autores do estudo, uma das explicações para a não detecção da gordura visceral (que se encontra em uma estrutura mais profunda dentro da cavidade abdominal) nos exames convencionais é a falta de instrumentos para isolar o tecido adiposo subcutâneo:

– Quando realizamos a medida da cintura em um indivíduo estamos incluindo na aferição o seu tecido adiposo subcutâneo que não está relacionado com doença arterial coronariana. Por isso, medidas semelhantes da circunferência abdominal podem representar riscos metabólicos completamente diferentes por não conseguir estimar com precisão a adiposidade visceral.

O projeto coordenado pelo pesquisador, intitulado “Relação de gordura visceral abdominal e doença coronária avaliada pela tomografia computadorizada de múltiplos detectores”, teve apoio da Fapesp.

Segundo Ávila, o exame de tomografia computadorizada ainda não faz parte do padrão de diagnóstico:

– Mas, diferentemente do que se imagina, é um exame facilmente reprodutível. Um hospital que tenha tomógrafo, desde o mais simples ao mais complexo, em qualquer lugar do país, pode realizá-lo. É fácil de ser feito e é um fator indicativo importante.

Ele destaca que a tomografia é o único método pelo qual é possível – com um único corte no abdômen na altura do umbigo – identificar e medir o índice de gordura visceral:

– Quando se vai ao cardiologista e se faz a medida da cintura, cerca-se o risco sem olhar dentro da artéria, considerando a gordura da parede abdominal como se fosse a mesma da visceral, mas são diferentes. A gordura visceral é muito mais perigosa do que a subcutânea.

O estudo não verificou relação direta entre obesidade e gordura visceral:

– Um indivíduo pode ser obeso e não ter um índice elevado de gordura visceral. Ao se analisar a coronária desse paciente, podemos ter ausência de sintomas da doença – diz Ávila.

Segundo Ávila, duas pessoas podem ter a mesma medida de circunferência e, no exame de angiografia (método de visualização dos vasos sanguíneos), somente uma delas apresentar diagnóstico de doença arterial coronariana.

A doença arterial coronariana é uma das principais causas de morte em todo o mundo. Mas seus sintomas demoram para aparecer.

– Até a artéria ter 70% de obstrução, geralmente não há sintomas, e os exames convencionais não apresentam alterações significativas – disse Ávila.

Mas, segundo ele, cerca de 68% do infartos têm ocorrido em pessoas que apresentam placa menor que 50%.

– É uma discrepância porque só enxergamos a doença quando ela apresenta obstrução maior do que 70%, mas os pacientes têm tido infarto com placa menor do que 50%. Os exames podem estar normais em relação a outros fatores de risco, mas a pessoa pode enfartar por conta de uma placa não detectada.

Uma das questões, segundo Ávila, é tentar compreender por que a gordura que está na parede do abdômen não tem tanta importância como a que se encontra nas vísceras.

– Ambas são depósitos gordurosos, mas a visceral é mais danosa – explicou. – Tentamos demonstrar que existe sensibilidade e especificidade da gordura visceral que é muito maior na indicação da doença coronária do que a medida do diâmetro abdominal.

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