quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

17 de fevereiro de 1997 – Morre Darcy Ribeiro

“Morte é quando a pulsão de vida que está na carne se apaga, então a carne volta a ser o que ela é, volta à natureza cósmica. A grande coisa que há na vida é o nascimento da morte”, disse Darcy Ribeiro certa vez, ao ser perguntado sobre o medo da morte, já que lutou mais de 20 anos contra um câncer o qual o fez terminar de vez a sua jornada na Terra.

Darcy morreu em um hospital de Brasília, no qual estava internado havia três dias por conta de complicações em seu quadro clínico. O corpo do então senador, antropólogo e romancista foi velado no Salão Negro do Senado e sepultado, no dia seguinte, no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, assim como desejava. Uma amiga do senador disse que Darcy morreu como queria, sem sofrimento e totalmente lúcido. Na véspera da morte, ele deu uma série de recomendações sobre o futuro de sua Fundação, mostrando vigor incomum e alimentava-se normalmente.

“Darcy lutou com bravura contra a própria moléstia e, até o seu falecimento, empurrou a morte para o mais longe possível. Estamos todos muito tristes”, falou o então presidente Fernando Henrique Cardoso, amigo de Darcy, decretando luto oficial de três dias. No Rio, o arquiteto Oscar Niemeyer, parceiro de Darcy em várias iniciativas como a construção da Universidade de Brasília, disse que falou com o amigo, por telefone dois dias antes dele morrer. “Ele estava preocupado e eu disse para ele resistir, para morrermos juntos daqui a 20 anos. Ele riu. Era um irmão. Ficou um vazio”, declarou com pesar.

Darcy, com físico de intelectual e alma de cruzado, costumava dizer que era alvo das atenções por dois motivos. Primeiro por causa do câncer: “O câncer tem um prestígio brutal”. Segundo por ser uma dos raríssimos intelectuais que tornara-se ministro, feito que compartilhava com FHC.


Intelectual com alma de cruzado

Darcy Ribeiro era um apaixonado pelo Brasil, pelos índios que defendeu como um cacique e pela política que tudo pode transformar. Como antropólogo, dedicou-se ao estudo dos índios no interior da Amazônia, ganhando prestígio como intelectual. Como escritor, publicou, além de livros acadêmicos traduzidos em mais de 20 países, romances e ensaios sobre educação e política. Como político engajado e intelectual cheio de idéias, ajudou a criar a UNB, tornando-se o primeiro reitor da instituição. Em 1992, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, após ter se dedicado a criar um novo padrão de ensino médio e ampliar a rede dos Centros Integrados de Educação Popular (Ciep) no Rio de Janeiro; logo depois, dedicou-se a erguer a Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos.

O sentimento de urgência permeou seus últimos anos. Fugiu da UTI em 1995 para escrever O povo brasileiro e poucos meses antes de morrer correu para terminar de redigir suas memórias. “O câncer me alertou. Pude escrever meus romances, tão carnais, porque perdi essa bobagem que se chama respeito humano. Reinventei a vida”, declarou ele.

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