sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mãe diz que incentivou filha a brigar em Araçariguama por falta de remédio

Imagens de Meire Silva incitando briga de jovens foi gravada com celular.
Ex-monitora afirma que concorda com prefeitura em decisão de demiti-la.





A ex-monitora de alunos Meire Fernandes Oliveira Silva, de 36 anos, disse em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (17) que incentivou a filha de 15 anos a brigar com outra adolescente em Araçariguama, a 53 km de São Paulo, porque estava sem os remédios que costuma tomar. “Foi um momento emocional que eu tive de ver minha filha por baixo [na briga]. Se eu tivesse tomado o remédio, eu teria separado.”

As cenas da briga, ocorrida há uma semana, foram gravadas por um celular. No vídeo, Meire encoraja a filha a bater em uma colega e não permite que pessoas interrompam. “Não entra ninguém. Não vai entrar ninguém. É minha filha. Ela vai resolver”, diz a mulher. Segundo a ex-monitora, essa não é uma atitude que ela teria normalmente.



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“Eu sei que estou errada de fazer aquilo. Eu me arrependo do fundo do meu coração. Sou uma ótima mãe”, disse. Ela comentou sobre ter dito em entrevistas que não havia criado a filha “para apanhar na rua”. Segundo a ex-monitora, ela também falou isso por estar sem seu medicamento. “Eu tomo remédio para convulsão e epilepsia, mas estava sem, não tinha comprado”, explicou.

A mulher contou que discussões entre as duas jovens ocorriam há quase um mês. O motivo seria um rapaz de 23 anos, ex-namorado da filha dela. Como monitora escolar, Meire trabalhava nos ônibus que transportavam os alunos – ela foi demitida após a divulgação do vídeo. A mãe diz que ouviu de alguns estudantes que a filha iria apanhar.

“Eu procurei a escola porque já vinha há um mês essa briga”, afirmou. Segundo Meire, ela pediu para que a coordenação intercedesse para evitar que as duas brigassem. O G1 procurou a Secretaria de Estado da Educação, que negou que a direção da escola Humberto Victorazzo tenha sido informada sobre o problema entre as adolescentes. A briga ocorreu do lado de fora da escola, na saída das aulas.

Um aluno de 15 anos que estuda na mesma sala da filha de Meire confirmou que a jovem vinha sofrendo provocações na escola desde o fim do namoro. “Antes dessa briga, uma vez juntou um grupo para pegar [agredir] ela. Eu e um colega a tiramos de lá”, contou.

Demissão

A ex-monitora escolar diz que concorda com a decisão do governo municipal de demiti-la. “O prefeito fez mais do que certo, não dá para passar [o que aconteceu]. Eu concordo com ele, faria a mesma coisa. Eu sei que fiz errado por ter incentivado”, afirmou. Ela diz que, por enquanto, não está procurando um novo emprego. “Primeiro, quero responder pelo o que eu fiz”, justifica.

Meire afirma que gostaria de “pedir desculpas a outras mães”. “Eu queria pedir para as mães pensarem e não fazerem o que eu fiz. Foi um momento emocional. Eu achei desagradável minha filha brigar por um homem, eu falei para ela”, afirma. Segundo Meire, quando chegou à porta da escola, as duas jovens já estavam brigando.

A mulher não compareceu nesta quinta-feira (17) a uma reunião sobre o caso marcada no Conselho Tutelar do município. Segundo seus familiares, ela passou mal e não pôde estar no encontro. O conselheiro Marcos da Silva afirmou que será feita uma visita na casa da família, provavelmente na manhã desta sexta-feira (18), em companhia de uma psicóloga. Meire diz que tem medo de perder a guarda dos filhos – ela também tem um menino de 13 anos. “Está me atormentando bastante o risco de ficar sem meus filhos.”

Vizinhos

Os vizinhos do bairro onde ela mora em Araçariguama dizem ter ficado surpresos com a atitude de Meire. “A gente ficou até surpreendido pelo o que aconteceu. Nunca ouvi ninguém comentar a respeito de que ela não seria uma boa mãe. Não tenho o que reclamar da família”, afirmou a comerciante Silvana de Souza, de 41 anos. Segundo ela, a ex-monitora compra em sua loja de roupas há cerca de 5 anos.


A dona de casa Lena Lopes da Silva, de 31 anos, também diz conhecer Meire há muitos anos. “Eu nunca ouvi dizer nada deles, não. Ela é uma pessoa legal. A família fazia festa de São João e convidava todo mundo, eles são pessoas tranquilas”, afirmou. A pensionista Maria das Graças da Silva, de 55 anos, afirma que a família “é muito legal”. “Não tenho nada o que reclamar dela [Meire].”



A mãe pode responder por corrupção de menores, de acordo com o delegado Mário Luiz Ayres. A pena é reclusão de um a quatro anos. “Houve uma alteração legislativa no Estatuto da Criança e do Adolescente. Agora, pratica corrupção de menores quem incita o adolescente a cometer um crime. Tudo leva a crer que ela vai ser indiciada mesmo”, disse Ayres. Ele espera, no entanto, a degravação da fita com as imagens da briga para decidir sobre o indiciamento. “Ela vai nos servir para delinear o que aconteceu.”

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