O Brasil tem 630 mil pessoas infectadas com o HIV, o vírus da Aids. Porém, cerca de 200 mil pessoas não sabem que têm a doença. Os dados constam do levantamento sobre a Aids no país, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. A desinformação sobre a própria enfermidade é uma das maiores preocupações das autoridades de saúde do país.
– Por isso, o Ministério da Saúde tem incentivado o teste voluntário das pessoas. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de sobrevida dos pacientes – diz o epidemiologista da instituição federal Gérson Pereira.
O diagnóstico precoce, além de ajudar a conter a disseminação da doença, traz benefícios para o próprio indivíduo infectado pelo vírus, uma vez que ele terá acesso aos medicamentos e coquetéis antirretrovirais que são distribuídos gratuitamente pelo governo federal.
– Não exitem problemas de distribuição dos medicamentos no Brasil – garante o epidemiologista do Ministério da Saúde.
Descuido
Além do alto índice de pessoas que não sabem que são portadoras do vírus, outro problema no Brasil é a falta de cuidados do brasileiro em relação à prevenção contra Aids. Embora 92% da população saiba da importância de usar o preservativo, apenas 60% se valem da proteção.
– Por questões culturais, muitas mulheres têm dificuldades em negociar o uso do preservativo com seus parceiros – comenta Gérson Pereira, que é chefe da Unidade de Vigilância do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do ministério.
Esta questão cultural pode ser a chave para explicar outro fenômeno: o avanço da doença entre adolescentes do sexo feminino na faixa entre 13 e 19 anos. Para se ter uma ideia deste avanço entre as jovens brasileiras, em 1980 havia uma adolescente infectada para cada seis adolescentes do sexo masculino portadores da doença. Esta relação se inverteu desde 1998, com 8 casos em meninos para cada 10 casos em meninas entre 13 e 19 anos.
– As mulheres estão iniciando relações sexuais mais cedo e isto é uma das razões deste crescimento entre elas. Nossa missão é mostrar às jovens a importância do uso do preservativo – comenta o epidemiologista do ministério.
Centros urbanos
Um dos destaques do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009 divulgado ontem é a queda dos índices da doença nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, entre 1997 e 2007. Por outro lado, no mesmo período, a epidemia cresce no interior do país, nos municípios com menos de 50 mil habitantes
De acordo com o Ministério da Saúde, os grandes centros urbanos do país – onde estão concentrados 52% dos casos de Aids – registraram queda de 15% na taxa de incidência da doença entre 1997 e 2007. Nesse mesmo período, a incidência nos municípios com menos de 50 mil habitantes dobrou.
– Como a epidemia começou nos grandes centros urbanos, eles estão mais bem estruturados para lidar com a Aids. Em contrapartida, os pequenos centros ainda estão se preparando para enfrentar melhor a doença – diz o epidemiologista
A análise da situação da Aids no Brasil foi realizada pelo Ministério da Saúde, que elaborou um panorama detalhado dos casos da doença nos 4.867 municípios brasileiros onde já foi notificada, pelo menos, uma ocorrência.
– O mapa permite conhecer as diversas epidemias existentes no país e fornecer aos gestores locais os instrumentos para que eles possam adequar as respostas à sua realidade – afirma a diretora do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Mariângela Simão.
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