quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A fome e a farra




Algumas cidades nordestinas convivem com flagelos paradoxais. Enquanto a população pobre enfrenta os efeitos da seca, prefeitos e vereadores celebram o aumento de liquidez de suas contas bancárias. Gestores e legisladores municipais que assumirão em 1º de janeiro terão reajustes salariais de até 272%. Abaixo, alguns exemplos relatados pela repórter Silvia Amorim:
- Carira: a cidade fica em Sergipe. Eleito em outubro, o prefeito Diogo Machado (PSD) receberá salário mensal de R$ 24 mil. Vitaminada em 71%, a remuneração ficou maior do que a de prefeitos de cidades como Salvador (R$ 18 mil) e Florianópolis (R$ 19 mil). Algo que contrasta com o cenário ao redor. Afora a estiagem que castiga a população de Carira, a prefeitura encontra-se sob intervenção da Justiça para assegurar o pagamento dos salários dos servidores. Como se fosse pouco, os vereadores também se autoconcederam um aumento de 100% —de R$ 3 mil para R$ 6 mil. O Ministério Público tenta anular os reajustes. Alega que a prefeitura, quebrada, viola a Lei de Responsabilidade Fiscal.
- Alagoa Grande: Assentado no sertão da Paraíba, o município sera gerido pelo prefeito eleito Bôda (PR). Receberá vencimentos reajustados em 80%: R$ 18 mil por mês. Ali, os vereadores elevaram também seus próprios vencimentos. Com um tônico de 62%, os contracheques passaram de R$ 3.700 para R$ 6.000. Quanto aos moradores, recolhem no chafariz da cidade a pouca água disponível. Carregam os vasilhames no lombo de jegues e em carrinhos de mão. Na zona rural, o abastecimento é feito por carros-pipa enviados pelo governo estadual.
 - Pombal: também localizada na Paraíba, a cidade assistirá em janeiro à segunda posse da prefeita Polyana Feitosa (PT). Reeleita, ela receberá um salário 67% mais gordo: R$ 20 mil mensais. Em novembro, a prefeitura de Pombal pediu Socorro ao governo do Estado para pagar carros-pipa que levam água a comunidades rurais ao custo de R$ 5 mil por mês.
 - Arneiroz: Fica no Ceará. Reeleito, o prefeito Monteiro Filho (PMDB) receberá depois da re-posse de janeiro contracheques com 272% de aumento. Receberá 11.900. Sob a alegação de falta de caixa, a prefeitura suspendeu uma bolsa-auxílio que pagava a estudantes. Coisa de R$ 250.
Rogério Rodrigues a Silva, presidente da Abracam (Associação Brasileira das Câmaras Municipais), defende os reajustes. “O vereador é um político diferenciado em termos de obrigação se comparado a outros parlamentares. Ele está na base. Além de legislar, ele faz prestação de serviços à população, principalmente nas cidades pequenas”, diz.
Vereador há 30 anos na cidade mineira de Coromandel, Rogério acrescenta: “Por experiência própria, eu digo que, quanto menor a cidade, mais difícil ser vereador. A cobrança é grande. As aflições da população são as nossas aflições.”
Fonte: Jornal O Globo

Um comentário:

  1. MAIS UMA VEZ SE CONFIRMA QUE UM DOS PROBLEMAS DO NORDESTE BRASILEIRO NAO E O FLGELAO DA SECA.E SIM A MA UTILIZAÇAO DO DINHEIRO PUBLICO.

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