quarta-feira, 19 de agosto de 2009




Marina deixa PT de olho em 2010
Vasconcelo Quadros, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - A ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva (AC) deixou quarta-feira o PT anunciando um futuro inspirado na “persistência” do presidente Lula e na história de seu ex-partido, que demoraram quase 30 anos para chegar ao poder.
– Imagine se o presidente Lula tivesse ficado dividido no PMDB? – disse a senadora, ao comparar seus “sonhos e utopias” pelo desenvolvimento sustentável com as antigas bandeiras do PT e do presidente. Marina garantiu que não ficará “presa” ao PV, diz que por enquanto não é candidata e discorda da análise de ex-companheiros que apontam que sua desfiliação como uma decisão aplaudida pela direita e ruim para a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
– O PT também era acusado de fazer o jogo da ditadura – reagiu a senadora ao lembrar o tensão gerada à época no antigo MDB quando Lula, o então metalúrgico que liderou as greves do ABC paulista no final dos anos de 1970, inspirado em bandeiras de esquerda, em vez de ingressar no PMDB, decidiu fundar um partido como uma alternativa ao regime militar e às tradicionais forças do bipartidarismo. Marina deixa o PT depois de 30 anos por falta de espaço para temas ambientais, mas garante que caso decida disputar a presidência, não será uma candidata “monotemática”. A expressão, segundo frisa, é resultado da “compreensão frágil” de quem entende a preservação das florestas e da biodiversidade como oposto ao desenvolvimento sustentável.
A senadora ressaltou ainda que a saída do PT é um gesto unilateral e que não vai aconselhar nenhum dos antigos companheiros a seguir com ela. Mas as defecções no PT já começaram: o senador Flávio Arns (PR), acusando o partido de ter rasgado a bandeira da ética ao livrar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou quarta-feira que vai se desfiliar. Marina diz que diante da opção que está fazendo, as discussões em torno de seu mandato – se deve ou não ser devolvido ao PT – ou do efeito de seu gesto no governo, são pequenas.
– Não estou deixando o partido com segundas intenções ou por subterfúgios. Isso é varejo – cutucou.
Logo depois da entrevista em que Marina anunciou a desfiliação, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, afirmou que não cogita pedir o mandato de volta.
– Houve uma interlocução positiva e respeitosa com a Marina, fazendo um debate sobre as razões da desfiliação. Não seria correto depois de tanto diálogo pedir o mandato dela – disse Berzoini.
Marina ficará avulsa até o prazo final da filiação no PV, que já comemora e anuncia para o final do mês seu ingresso. Segundo a avaliação de políticos próximos à senadora, é o tempo suficiente que ela espera para medir o efeito e a repercussão de seu gesto. Na visão dos novos companheiros, Marina acha que há um vácuo no cenário político e aposta que seu nome, como em outros períodos, possa inspirar a formação de uma frente que estimule uma alternativa consistente ao poder.
– Uma candidatura não está presa a um partido – avisa a senadora que, em vez dos parceiros tradicionais, fala em “núcleos da sociedade”. Ela diz que não alimenta a ilusão de que vá encontrar um partido sem problemas, mas lembra que o próprio PV – uma miscelânea ideológica – está se refazendo para se consolidar como alternativa ao poder. Para ilustrar a ideia de uma frente e avisar que não tem pressa, Marina citou o falecido jornalista e pensador gaúcho Adelmo Genro Filho, irmão do ministro da Justiça, Tarso Genro, como mote à sua utopia.
– Ele falava em mudar o mundo e depois mudar o mundo mudado – disse a senadora ao anunciar que irá procurar “os homens bons” existentes em todos os grupos políticos ou sociais.
O ministro da Cultura, Juca Ferreira (PV), disse que Marina é maior que seu partido e que, caso ela se filie e saia como candidata, a ideia é trabalhar com alianças. A senadora acha que o mundo mudou e é hora de sustentabilidade e desenvolvimento ocuparem um mesmo lugar na agenda.
Marina acha que mundo evoluiu e que os empresários já não definem mais o valor de seus produtos apenas pela estética ou pela técnica.
– O novo valor é a ética – disse, ao sugerir que os biocombustíveis, desde que se faça o dever de casa, podem abrir uma nova janela de oportunidades sem destruir os recursos naturais. A senadora lembrou que, ao contrário dos países desenvolvidos, o Brasil tem ainda limpas 45% de suas matrizes energéticas e cerca de 300 milhões de hectares de terras produtivas, o que torna viável um novo modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade.
– É possível uma nova narrativa limpa e diversificada – disse a ex-petista.

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